Quando a revolução já estava mais ou menos consolidada, vieram os oportunistas. Os chamados “Velhos do Restelo”. Também regressaram aqueles que estavam dando a vida pela “Pátria”. Os que realmente lutaram pela Liberdade. Os soldados, os emigrantes forçados e os outros, aqueles que fugiram por conveniência. Este poema nasce de uma frase de um livro que li, da escritora Maria Velho Costa, onde tento fazer em poucas palavras uma retrospectiva, do que foi a política, do antes de Abril de 1974 até Novembro de 1975. Quando a esperança da mudança, começa a morrer. Isto na minha visão.
“… Vi as panelas de feijão e arroz,
a míngua, a mão estendida o todo-mês…”
(in “CRAVO”, de Maria velho Costa)
Vi madrugadas veladas e céus cerrados
de cavalos raiados de sangue,
orvalhadas de azul,
onde bestas sem patas calçavam botas de cardas.
Amputavam punhos nos dedos dos poetas,
derramando o sangue
por entre as mãos trazidas nas palavras.
Vi-os partir,
os filhos, os irmãos e os amigos,
morrendo nas “picadas”
para não morrer nas “raízes”.
As mães roendo florestas desconhecidas,
caminhos sem nome,
perdidos em restos de países.
Vi os mortos levantados nos olhos dos operários,
as ferramentas nas mãos de doer os filhos,
vomitando chaminés
às sombras acusadoras das gruas,
nos batelões salgados das marés.
Vi Abril abrir e Maio florir.
Espingardas de baionetas
inflamadas de cravos,
grades partidas na madrugada vermelha,
chorando os abraços dos libertados.
Vi o regresso dos “heróis”,
dos “velhos do Restelo”
com casas de areia em falésias de promessas
e jardins ocidentais.
Vinham do lado de cá dos muros,
sem arames oxidados pelo sangue,
sem farpas nos dedos,
com sonhos de generais.
Vi escurecer botas silenciosas,
manchadas de suásticas acéfalas,
bestas subindo aos ombros das crianças fiéis,
operários de olhos mortos,
parindo mulheres às portas dos bordéis.
Vi morrer Abril em Março,
murchar Maio em Setembro,
o sonho acabar no frio de Novembro.
Castelo Branco, 1978
Texto: Victor Gil
Fotografia: Internet (Google Imagens)
7 comentários:
Desencantado poema., mas muitas coisas mudaram, menos que o desejado, mas mudaram, ou estou enganada?
beijos
interesante retrospectiva poética muy bien plasmada
felicitaciones por este acierto
besitos amigo bello
gracias por tus pasos
que tengas un fin de semana precioso
Oi Gil! Como vai querido amigo??
Poema muito forte onde marca tristes e verdadeiras lembranças que o tempo ainda arrasta a barra do passado sombreando o presente...
Parabéns! Tua escrita é fabulosa!
Bom Domingo! Ro.
Foi muito bom vir até aqui.
Os meus agradecimentos e boa semana.
gracias victor por tus hermosas huellas
ánimos y las mejores vibras para ti en esta semana
besitos de luz
De facto as expectativas eram muitas em relação às mudanças que se iriam operar no país, que em parte foram defraudadas. No entanto a esperança é a última coisa a morrer e não nos devemos esquecer que agora temos a possibilidade de escolher os nossos dirigentes políticos, como aconteceu no recente ciclo eleitoral. Só é pena que muitos se sirvam da política para seu benefício pessoal e enganem os eleitores com falsas promessas mas, enfim, oportunistas sempre existiram, vamos esperar que as coisas melhorem!
Um abraço e um óptimo fim-de-semana.
Lindo Poema.
Mas as pessoas vão esquecenso o que foi tão bom.
Abraço
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