domingo, 25 de junho de 2017

O FOGO EXTINGUIU-SE!



O fogo extinguiu-se!
Mas não se extinguiu o negro da queimada,
os gritos da estrada perdida,
os brados das vidas espalhadas,
os troncos sombrios da terra ,
os caminhos perdidos da serra.

Não se extinguiu o fumo debaixo dos pés,
o cheiro da roupa suada,
o luto das estátuas crestadas,
o negro dos vultos esgotados,
o pranto dos rostos esvaziados,

Não se extinguiu o medo do tempo,
onde os dias passam devagar,
onde os riachos ocultam as margens,
onde as aves esvoaçam libertas,
onde as veredas circundam charnecas.

Não se extinguiram as aldeias mornas,
as portas modestas no trinco,
as chaminés que ainda fumaçam,
as casas de frinchas abertas,
as pedras caiadas e as ruas desertas.

O fogo extinguiu-se!
Mas o fumo debaixo dos pés,
o medo do tempo das aldeias queimadas,
não se extingue no negro das vidas espalhadas.

Texto: Victor Gil

Fotografia: Google Imagens

terça-feira, 1 de maio de 2012

Maio, Maduro Maio



POR UM 1.º DE MAIO DE ESPERANÇA. A LUTA CONTINUA.

Video: Youtube

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Liberdade!



Uma viagem pelos murais de Abril.

Video: Youtube

quinta-feira, 8 de março de 2012

Flor de Pedra

             Faltam poucos dias para se comemorar o dia em que ela morreu. Portanto a minha homenagem às mulheres neste Dia Internacional da Mulher, vou fazê-lo através de um poema que escrevi em 1993, que dediquei à grande poetisa Natália Correia.


                                                       “Talvez as mulheres sejam monstruosas
                                               porque no fundo só podem amar aqueles que
                                               sofrem. Mas é por isso que elas são sublimes”.

                                                                 (in “Madona”, de Natália Correia)


Por isso foste sublime.
As letras,
de armas tu fazias as batalhas.
Por isso o povo amavas
e sem pudor te desnudavas.

Mulher espontânea dos sonetos.
Uma flor de pedra
de beijos quentes.
Roçando as mãos
profundamente perturbavas.
Abrias as sombras
como as palavras separavas.

Mas flor de pedra,
entre o perfume da loucura
sempre sabias.
Partir os vidros das janelas,
enquanto te despias.


Guarda, 15/03/93

(em memória de Natália Correia, escritora e poetisa)


Texto: Victor Gil
Imagem: Google (Imagens)

sábado, 7 de janeiro de 2012

Homenagem a Pedro Osório



             Pedro Osório, foi um dos maiores compositores contemporâneos do nosso país. Com o seu falecimento, desaparece um dos mais importantes compositores de Abril. Ele integrou uma série de grupos musicais da década de 70, como por exemplo: Grupo Outubro, Quinteto Académico, S.A.R.L., etc.. Para além de ter feito arranjos e composições para muitos dos nossos cantores. Algumas das quais bem conhecidas, como por exemplo,"Verão", que Carlos Mendes cantou num Festival da Canção da RTP. Eu deixo aqui a minha pequena e modesta homenagem.
 

Eu queria falar de Pedro Osório.
Mas vou tentar não falar
do seu combate,
da sua luta e do seu povo,
da sua jornada.
Dos tiros e das guerras,
das prisões e dos catres,
dos tugúrios das cidades.
Vou tentar falar sem dizer nada.

Vou tentar não falar
dos sonhos de liberdade,
da sua música feita na luta,
das notas que escaparam
da sua pauta e batuta.
Dos companheiros
que se desviaram da vida
pelos trilhos da caminhada.

Eu queria falar de Pedro Osório.
Havia tanto para falar,
mas vou tentar falar sem dizer nada.


Castelo Branco, 05/o1/2012


Texto. Victor Gil
Video: Youtube

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Outro Natal



        Este poema foi escrito em 1978. Nessa altura eu vi assim o Natal. Havia pouco tempo que tinha passado Abril. Neste Dezembro as coisas começavam aos poucos a tentar melhorar. Mas passados estes anos todos, Natal continua a ser somente para alguns. Este ano então foi o que se sabe. Natal foi sinónimo de roubo. 

Mais um ano, outro Natal,
noite de ilusões banais.
Natal do bem e do mal,
feito de muitos natais.

Na chaminé, o sapato,
na lareira, as filhós,
o presépio iluminado,
o Natal dentro de nós.

Os pinheiros enfeitados
de um sonho feito criança,
de prendas e de brinquedos,
de outra noite de esperança.

Mas Natal não pode ser,
dia feito de outros dias.
O homem tem que fazer,
um Natal todos os dias.

É Natal quando uma ave,
canta alegre a natureza.
É Natal sempre que a neve,
não congelar a pobreza.

Sempre que as águas do rio,
corram límpidas e fracas.
Sempre que não entre o frio,
nos buracos das barracas.

Sempre que não haja lama,
na palma da tua mão
e que não seja a tua cama,
ninho de prostituição.

Sempre que uma criança,
não andar com os pés nus,
e não seja mais a esperança
de outro Menino Jesus.

É Natal, quando as palavras,
do homem, não forem guerra.
É Natal, sempre que lavras,
com amor da tua terra.

Quando nascer uma flor.
tem que ser Natal também.
Natal, é sempre o amor,
de uma mulher ao ser mãe.


Castelo Branco, Natal de 1978.


Fotografia e texto: Victor Gil

quinta-feira, 24 de novembro de 2011


             Nem que chovam picaretas, temos que acabar com a corja de malfeitores e salteadores, que assolam o nosso país.


Video: Youtube

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Nas ruas da minha cidade


             Uma imagem que diz mais que mil palavras. Este poema eu o escrevi em Janeiro de 1987. Era uma visão das ruas, que eu tinha das minhas cidades. Mais ou menos, as coisas não mudaram muito. Perderam-se 36 anos de incongruências e incompetências, de corrupção e manobras obscuras. E quando toca a pagar, são sempre os mesmos. Ah! E a receber também.


Nas ruas da minha cidade,
há automóveis, máquinas de andar,
pessoas que vegetam nos passeios,
que circulam sem nada verem,
que empurram a fadiga da noite,
nas ruas da minha cidade.

As montras brilham à noite, de luz
negada aos olhos das crianças.
Atraem as multidões, as compras,
os brinquedos de guerra, proibidos,
vendidos em tempo de amizade,
nas ruas da minha cidade.

Nas ruas da minha cidade,
há mendigos, homens dormindo
na nudez da manhã, frio entranhado,
grito de latido, uivo de cão vadio,                 
trapos de vida, errantes que se rasgam,
nas ruas da minha cidade.

Os dias acordam húmidos, geadas,
o néon rompe o nevoeiro, fumo sem fogo,
o sol, o calor dos sentimentos,
a revolta contida, frio de mármore,
a passiva visão real de uma verdade,
nas ruas da minha cidade.

Nas ruas da minha cidade,
há ruas dentro das avenidas,
jardins com flores, canteiros de pedra,
estátuas, corpos sem profissão,
há palácios, há tabernas, há cafés,
nas ruas da minha cidade.

Os semáforos invadem a cidade,
os sinais, condicionam as ruas,
engarrafando, os peões atropelados,
as passagens, o sentido único,
o sentido proibido, o falso sentido,
nas ruas da minha cidade.

Nas ruas da minha cidade,
há policias, marginais da vida,
prostitutas, mulheres, pederastas,
corpos vagueando entre passos
perdidos, nas pedras das calçadas,
nas ruas da minha cidade.

Nas cálidas tardes, o centro (cívico)
urbano, a actividade passiva, passada
na discussão das ideias, idealizadas
nas esplanadas que invadem, a calma
sensível da cumplicidade burguesa,
nas ruas da minha cidade.

Nas ruas da minha cidade,
há mendigos, há crianças, há tabernas,
cães vadios, olhos amargos, vidas perdidas.
há ruas dentro das avenidas.


Castelo Branco, Janeiro de 1987.

Texto: Victor Gil 
Fotografia:  Internet (Google Imagens)

terça-feira, 25 de outubro de 2011

José Jorge Letria - Tango dos Pequenos Burgueses



Resta-nos dançar o tango enquanto não ficamos de tanga.

Video: Youtube

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Deixem-me Ouvir o Cantar da Chuva


      Este poema foi escrito em 1987, mas cada vez mais, sinto que a actualidade se parece muito com o passado.

Deixem-me ouvir o cantar da chuva.
Deixem-me voar neste poema,
na precipitação,
onde as crianças de pés molhados,
sem calções,
vagueiam nas valetas das cidades.
Deixem-me ouvir
a voz do pensamento,
na luz do solstício de verão,
de pólo negativo ou positivo atraídos.
As pessoas pelas ruas,
absortas,
espantadas.
Divagam na solução
dos problemas sociais da sociedade,
da morte,
a cada aresta das calçadas.

Deixem passar a voz do vento,
o uivar dos lobos,
dos cães vadios,
dos gatos pelos telhados,
da água nas goteiras,
seiva de vida e sangue.
Deixem-me dormir no sono
dos mendigos sem telhado,
farrapos soltos ao vento,
varridos pelo chão,
pela corrente em turbilhão,
cor de lama,
amarelo-torrado,
sem sol, noite ou dia.

Deixem alagar os campos,
as cidades,
as vilas e as aldeias.
Que a água invada as casas,
as fábricas e as igrejas.
Que seja subversiva,
herege,
revolta.
Que seja bandeira de luta,
pecado mortal,
inquisição.
Que chegue à lua em foguetão,
ao monte das oliveiras.
Que suba ao céu e volte a cair.

Deixem passar as enxurradas,
a luz do arco-íris,
pelas gotas do cristal chuvoso.
Que haja inundações
e água afogue
quintas e quintais.
Que arraste os homens,
os animais,
as árvores
e as terras plantadas.
Que limpe as guerras
e as armas,
a fome e a violência,
o cantar das balas.
Que seja perversa,
ridícula,
hedionda,
vingativa e cruel.
Que transborde dos rios,
absorva as margens,
os lagos e os mares,
os ribeiros atravessados.
Para que os lobos
desçam aos povoados,
raivosos,
agressivos.
Que ataquem
capoeiras e pombais,
os currais e as casas,
sem esquecer o homem,
(e a pomba da paz).
Que o seu uivo
se oiça longe,
arrepiante,
lúgubre como a noite.
Que o dilúvio
dure quarentas dias
e quarenta noites,
que venha a arca de Noé,
embarcar-nos.
Todos os bichos
todas as feras,
sem esquecer o homem,
(e a pomba da paz).
Que navegue por entre os cumes
das montanhas naufragadas.
Que depois de encalhar,
devolva ao seu lugar natural,
todos os bichos
todas as feras,
sem esquecer o homem,
(e a pomba da paz).
Que o bem o mal multiplicado,
se espalhe naturalmente
outra vez pela terra.

Para que os meninos das cidades,
os mendigos em farrapos,
o uivar dos lobos,
dos cães vadios,
os gatos nos telhados,
todos os bichos e feras,
a guerra e o cantar das balas,
sem esquecer o homem,
(e a pomba da paz)
me deixem ouvir o cantar da chuva.

Castelo Branco, 13/03/1987

Texto: Victor Gil
Fotografia:  Aliperti (Olhares.com)