terça-feira, 14 de julho de 2009

CONHECI-TE EM ABRIL


Catarina Efigénia Sabino Eufémia (Baleizão, 13 de Fevereiro de 1928 — Monte do Olival, Baleizão, 19 de Maio de 1954) foi uma ceifeira portuguesa que, na sequência de uma greve de assalariadas rurais, foi assassinada a tiros, pela P.I.D.E, polícia política que era o pilar do regime. Com vinte e seis anos de idade, analfabeta, Catarina tinha três filhos, um dos quais de oito meses, que estava no seu colo no momento em que foi baleada.


Conheci-te em Abril no cantar do Alentejo,
o teu nome Catarina, era fragata no Tejo.
Eras um cravo vermelho, papoila da liberdade,
eras grito do teu povo na manhã de uma cidade.
Vi-te nos punhos cerrados, no azul de um marinheiro,
no cravo das espingardas, no peito de um companheiro.

Eras tu, vinhas de pé, trazias a foice na mão,
no peito, um cravo rubro e os campos de Baleizão.
Os campos que tu regaste com o teu sangue e suor,
quando nesse chão tombaste, tu semeaste uma flor.

Conheci-te em Abril, na campina da esperança,
o teu nome Catarina, era riso de criança.
Eras símbolo contra o mêdo, o fascismo, a repressão.
eras canto do teu povo, eras foice em sua mão.
Vi-te em Abril companheira, no sol que queima o ceifeiro,
no olhar de uma ceifeira, no martelo do ferreiro.

Estavas de pé, camarada, contra a miséria e a fome,
junto ao povo que gritava e chamava pelo teu nome.
Como o dia em tombaste, por terras que semeavas,
que te era tão madrasta, mas que tu tanto amavas.

Conheci-te em Abril, davas-me o teu braço amigo,
o teu nome Catarina, era seara de trigo.
Eras grades de prisão quebradas na madrugada,
eras um grito nas trevas da longa noite calada.
Vi-te nas bandeiras rubras, no Maio da igualdade,
no voar de uma gaivota, no canto da liberdade.

Não ceifeira, não morreste, frente às balas dos algozes,
estás viva, sempre viveste, estás viva nas nossas vozes.
Por isso te vi em Abril, ao lado dos companheiros,
eras seara de trigo, eras foice dos ceifeiros.

Castelo Branco, 25/04/1978

(Dedicado a Catarina Eufémia)


Texto: Victor Gil
Fotografia: Retirada da "Galeria de Moitas61" (Flickr.com)

7 comentários:

azul disse...

Que triste la historia...el poema lo que he podido entender muy bello ....

Un saludo grande

Unknown disse...

Liberdade e esperança: dois sonhos que trazem sempre muito sofrimento.

Bjs amigo
Lindo dia.

Sonia Schmorantz disse...

Mesmo triste, cada história tem seu encanto, e não morre nunca aquele que lutou e permanece na memória de seus companheiros...
Bom final de semana
abraço

*Lisa_B* disse...

Lindo poenma que a triste vida ou destino de alguém consegue arrancar do peito de quem cá fica.
Deicei comentario em reposta ao seu no meu cantinho dos selos.
Obrigada e força.

Alice Matos disse...

Belo poema, Victor, cheio de força e quase cantado...
Fica bem...

Leonor Varela disse...

Bonito poema dedicado a uma grande mulher que foi Catarina Eufémia, uma mulher de coragem, o que faz falta a muita gente talvez o país estivesse melhor se o povo não se conformasse tanto.

Bom meu amigo e vizinho passe um lindo dia amanha
um beijo

Fernando Santos (Chana) disse...

Caro amigo, belo poema dedicado a uma grande mulher que dedicou parte de sua vida na luta pela liberdade...Catarina Eufémia.....
Um abraço